Gerson Camarotti - Preocupada com a violência em presídio do Maranhão, a presidente Dilma Rousseff almoçou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo para avaliar a situação e determinou que ele oferecesse toda ajuda necessária ao governo estadual. Mas no núcleo palaciano, há o reconhecimento de que a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), num primeiro momento, resistiu à ajuda federal para evitar um desgaste político.
“O governo federal vai ajudar o Maranhão em tudo o que for preciso. Mas a Roseana tem que pedir essa ajuda”, observou um interlocutor da presidente Dilma.
Segundo relatos, o ministro Cardozo informou à presidente Dilma que tem feito tudo o que pode em relação ao Maranhão: prorrogou a permanência da Força Nacional em São Luís e disponibilizou vagas em presídios federais para os líderes das facções criminosas. O governo maranhense teria pedido mais 50 vagas nos presídios federais, além dos 26 presos que já foram transferidos. Mas o Ministério da Justiça ainda aguarda que seja enviada a relação com o nome de todos os presos.
O ministro da Justiça também avalia a possibilidade de viajar para São Luís para analisar de perto a situação prisional no estado. Existe uma recomendação no Palácio do Planalto para evitar colar no governo federal um problema estadual, principalmente depois da nota do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas que pediu que as autoridades brasileiras façam uma investigação imediata, imparcial e efetiva da situação de violência no presídio de Pedrinhas.
A avaliação feita nesta quarta-feira, em Brasília, é que é possível contornar a crise no Maranhão. No Planalto, há um consenso de que uma intervenção federal no estado seria uma solução drástica. Mas também há o reconhecimento de que a governadora Roseana Sarney não pode tentar contornar esse episódio como uma forma de “embate político”.
Há contrariedade no Planalto com o posicionamento da governadora do Maranhão, que tem acirrado o problema ao atacar um relatório divulgado recentemente pelo Conselho Nacional de Justiça. Dilma tem mantido um diálogo constante com o senador José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana. Como a família Sarney é uma aliada preferencial do governo petista, a recomendação é de que haja cautela dos ministros ao tratar do tema.
Onda de Violência
O governo federal quer afastar ao máximo a presidente Dilma Rousseff da grave crise que atinge os sistemas prisionais do Maranhão e do Rio Grande do Sul. Os dois estados são comandados por aliados de primeira hora da presidente, os governadores Roseana Sarney e Tarso Genro, e são considerados fundamentais nas eleições deste ano. Diante da gravidade da situação nas prisões, a presidente não teria como fazer qualquer pronunciamento acrítico.
Por isso, a determinação do governo é que caberá ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pronunciar-se sobre o caso — o que ainda não havia ocorrido até o início da noite de ontem. Até agora, o Planalto permanece calado.
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Na terça-feira, chegou a ser anunciada uma entrevista do ministro Cardozo para tratar de outros assuntos da área, mas ele acabou mandando representante, depois de se reunir por cerca de 40 minutos com a presidente Dilma no Alvorada. A única ministra a se pronunciar até agora foi a chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, que emitiu nota oficial repudiando “com veemência a barbárie e a banalização da vida”.
Apesar de não tratar publicamente do assunto, a presidente se reuniu com Cardozo e com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para discutir o tema. Em 2010, Dilma obteve no Maranhão sua segunda maior vitória eleitoral, com 79% dos votos no segundo turno, atrás apenas dos 80% obtidos no Amazonas.
Hoje, o objetivo da presidente é garantir o apoio das duas forças que deverão disputar o governo do Maranhão: o presidente da Embratur, Flávio Dino, e o candidato que vier a ser indicado pela família Sarney.
O palanque duplo no estado é um dos principais focos de animosidade entre peemedebistas e petistas. A direção nacional do PMDB está considerando o apoio do PT no Maranhão como uma pré-condição fundamental para que seja sacramentada a aliança nacional entre os dois partidos.
Os militantes do PT no estado, no entanto, são historicamente mais próximos de Flávio Dino. O comunista, no entanto, já fechou um acordo com o presidenciável Eduardo Campos e afirma, publicamente, que ele terá espaço em seu palanque independentemente de também vir a receber ou não apoio do PT. (O Globo)
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